08/10/2010

Em potência

Nayara Matos

Desci do trem e as únicas pistas que eu tinha para tentar encontrar Karolina eram o telegrama que me enviara e seu perfume que eu trazia junto às minhas memórias. Haviam se passado alguns meses, eu sabia a exata conta desse tempo que, teimosamente, continuava a se erguer e a pesar sobre meu ombro, dia após dia. Suas cartas, escritas numa cadência adocicada pela distância, conformada pela espera e ainda amarga pela saudade, insistiam em me rodear. A porta estava repleta de bilhetes. Eu os recebia junto a cada correspondência. Eles causavam uma ansiedade tamanha. E a lágrima, aquela discreta e inevitável, tocava o pequeno pedaço de papel, como quem afaga uma mão, delicadamente.
Os telefonemas eram demorados, as emoções se misturavam ao ponto se serem uma só em todas. Mas sabe como é mãe né? Ah, Dona Karolina! Para ela , eu estava sempre com uma “vozinha triste”. Aí a gente desconversa e diz que “não, é só impressão, devo estar é cansada”. Não adianta, porque mãe não tem só impressão, elas sentem, sabem e ponto. Então eu me pergunto, por que eu não disse que sim, eu estava triste? Que a distância não era mais pura saudade? Aquela saudade que você sente, mas se conforma pela certeza de que vai encontrar aquele calor, aquele carinho ao fim do dia. Essa saudade se transformou em dor, essa dor que se sente quando a vida lhe obriga a enfrentar a distância, a angústia da incerteza do reencontro, o vazio de não poder sentir o abraço ao fim do dia.
A minha distância não, ela aumenta e corrói a cada dia. Então por quê? Por que eu sempre fugi de expor minha fraqueza, por que suprimi o choro ao telefone? Porque não disse que sofro sim por estar longe, e tem dias que parece que não vou aguentar, dias em que quero voltar para casa, sentir saudade só por uma tarde e poder matar essa saudade, vendo Dona Karolina chegar. Por quê?
No fundo eu sei. É porque a gente acha que nossa fortaleza será redentora do sofrimento do outro. Sei bem que se eu falasse a verdade, a deixaria mais preocupada e impotente pela distância. Porém, ao esconder a verdade, perdi a chance de mostrar o quanto seu amor era acalentador e o quanto era difícil viver sem seus abraços. Perdi a chance de ouvir sua voz doce me acalmar ao telefone, enquanto o choro me paralisava. Perdi a chance se sentir o equilíbrio de Dona Karolina me fortalecer. Eu não deixei de falar da saudade, mesmo que não tenha sido o suficiente.
Eu entendo o porquê do telegrama, ela sabia muito bem que, ao telefone, minha reação seria devastadora. O telegrama lhe daria tempo, e assim o fez. A cada minuto eu perdia mais a força que me manteve acordada até ali. Apesar da calma de suas palavras, a minha urgência era irremediavelmente, necessária, então parti no mesmo dia.
Não seria difícil localizá-la. Localizar a matéria, seu corpo frio estava fadado a um único lugar, e eu já conhecia. Difícil seria encontrar. Me encontrar com aquela nova forma de estar no mundo. Difícil seria encontrar o corpo frio pelo qual você daria a vida para reaquecer. Este encontro, sim, seria difícil. Me alimentei de lembranças, munida de seu perfume – que não mudara desde a minha infância- e ali percebi que estas eram as pistas para não haver uma última e dolorosa lembrança. Decidi que não precisava de um último encontro, pois o manancial redentor havia sido encontrado dentro da minha memória. Criei imagens novas a a partir de seu último telegrama e seu perfume, deixaria sua força me invadir a todo instante. Me eximi, ali, da obrigação do último encontro.
Todos sabiam que o chão se arrancaria sob meus pés cansados e desabaria um peso de não ter dito SIM. Sim, naquela ocasião eu estava mesmo triste, não era cansaço e o quão duro é suportar a distância e que me faço de forte porque preciso. Eu não notei que minha fragilidade se mostrava através das falhas na parede, construída por mim, numa desesperada tentativa de proteção. Ah, mas ela, ela sabia, sempre soube da minha angústia e agora fica claro o porquê do telegrama. Ela arriscou me dar o tempo da demora e da distância. Enfim, com as pistas que tinha, eu encontrei a potência ativa das lembranças que eu mesma escolhi para compor minha dor e minha saudade.



Um velho conhecido

Gyssele Mendes

Desci do trem e as únicas pistas que eu tinha para tentar encontrar K. eram o telegrama que me enviara e o seu perfume. Observo a estação e nada faz muito sentido, mas ainda assim me atenho ao que me coube: algumas palavras e o que exalavam.
Caminho despretenciosamente por entre aqueles que marcham rumo ao desgaste de seus trabalhos, suas famílias, suas vidas. Normalmente me incluo, mas hoje não. Hoje miro o desconhecido. Não o espero como todos os demais e como eu mesma em outros momentos. Eu o quero e faço dele o meu fim. Ele é o meu fim.
Entre esbarrões, tropeços e desculpas tão automáticas quanto as portas do trem, sigo na minha heterotopia solitária, confluência do “tudo” a minha volta. Procuro, mas não quero procurar, quero encontrar. Não é o acaso, porque mesmo o acaso tem o seu lugar no tempo. É outra coisa, sem nome. Sem projetos ou projeções ou qualquer resquício burguês que haja nessa minha cabeça estafada de mundo. Utópica e romântica. Eu sei, já me classificaram, mas não sei ser de outra forma. É assim que me insiro e sou inserida, é assim que me moldo e sou moldada. Jogo de mão dupla, não esqueçamos.
Estou aqui não pelo telegrama, mas pelo perfume. Não me esqueço de perfumes, me arrebatam mais do que palavras. Talvez seja esse meu fascínio pelo etéreo, pelo fluido, pelo inagarrável que me permite até neologismos, que me trouxe até aqui. Me engano, sabia? A minha busca se torna uma não-busca, ou talvez uma meta-busca. Na verdade, não há busca, exatamente como aquele telegrama dizia, o que muito me intrigou. Mas o perfume era incomparável. Doce na medida certa, envolvente sem medida alguma. Como pode?
Paro em lugar algum e espero. Marcamos em algum tempo, cada uma no seu, então não há marco, não há medida para isso. Me atrai um jogo sem regras, me deixa a impressão de que é possível um mundo paralelo. O meu mundo paralelo. Pode soar egoísta e talvez até seja, não me importo, eu só jogo. Poucos anos de mundo já me ensinaram isso. Tentei fazer diferente, tentei fugir, mas só encontro fugas em dias como o de hoje, onde tempo e espaço perdem seus sentidos pré-programados e passam a ser qualquer tempo e qualquer espaço, ou qualquer coisa que queiram ser.
Mas se não há tempo, não há espera. Não há busca, não há frustração, não há angústia. O que há, então? Ao menos cheguei ao meu fim, o desconhecido.


O dia seguinte

Zeliuto Gomes

Chamo-me Plínio de Arruda Sampaio e consigo acreditar que ainda estou vivo.
Vocês sabem, na minha idade emoções fortes matam. O que dizer então de tudo isso?
Em uma semana vimos a candidatura e a máscara do Serra desabarem. Vimos seu discurso da auto-vitimação se transformar na maior auto-denúncia da nossa história.
Agora todo sabem que quem quebrou o sigilo da filha do Serra foi o Aécio. Sabem, também, que a mesma filha, o genro e o vice dele administravam um complexo esquema de lavagem de dinheiro coordenado pelo próprio Serra.
Não escondo a satisfação de estar vivo para ver esse avanço de nossas instituições. Foi uma emoção forte mas duplamente perigosa, seja pelo esboço de uma conjuntura positivamente republicana, seja por ver o Serra finalmente desmascarado.
Enganam-se aqueles que pensam haver alguma alegria em mim pela morte da Dilma.
A carnificina midiática, intensificada ao absurdo nessas semanas, para mim foi um assassinato.
Os grandes complexos midiáticos discursaram mais sobre câncer nesses dias que nos dois últimos anos.
Falaram de todas as enzimas, de todos os processos físico-químicos conhecidos, supostos ou imagináveis.
Nenhum jornalista, contudo, especulou, nenhum especialista sugeriu a possibilidade de que alguém venha a desenvolver uma doença de forma tão fulminante, caso submetida ao linchamento moral e massacre psicológico aos quais Dilma fora exposta.
A violência foi tanta que o Temer, também atingido, lá está com morte cerebral após o derrame. O que Ignacio Ramonet chama de armas silenciosas aqui chega às vias de fato.
Após essa tragédia, a mídia acusa e condena a enzima. Repete à exaustão o nome e a origem da “enzima golpista”, ao tempo que conforta e afaga os órfãos da Dilma.
Quanto à Marina, até agora não sei o que dizer. Quisera que esse discurso fosse apenas um texto. Desses de pouco valor literário produzido por um estudante limitado numa tarde qualquer.
Quisera que tal manifestação do acaso fosse apenas uma pilhéria. Coisa de mau gosto.
Não consigo entender. Não posso aceitar.
Ontem, às dezoito horas, Marina estava eleita presidenta do Brasil; hoje, às duas da manhã, me acordam dizendo que sou o presidente.
Confesso a todos: não estava preparado e não estou. Não é uma questão de competência. Não é uma questão de medo. É uma questão de contingência.
É, sobretudo, um assombramento o processo que me trouxe até aqui!
Não foi a luta entre classes levada a termo. Não foi o despertar crítico das massas a partir de uma educação libertadora.
Estou aqui por uma sequência absurda de desfechos dramáticos.
Serei mais que franco. Quero dizer que não ousarei especular sobre forças ocultas ou superiores que possam estar me guiando. Não serei messiânico. Não tentarei iludi-los com atos mirabolantes, pirotécnicos ou populistas.
A verdade é que minha campanha era uma hipótese, um convite à reflexão, um apontamento de utopia.
Nunca coube em nossas previsões que câncer, derrame, prisões e acidentes nos colocariam aqui! O processo histórico capaz de viabilizar nosso projeto não cabe nesse momento.
Por isso só nos resta, a mim e a meu vice, renunciarmos.
Espero, apenas, que o próximo da lista não venha no mesmo avião com seu vice.


04/10/2010

O dia seguinte

Matheus Marins Alvares

Chamo-me Dilma Rousseff e acaba de sair o resultado da eleição. O salão principal está repleto de paletós e falsos risos vadios. A imprensa se retirou e a festa começa quando o primeiro terno vai pelos ares. Vejo então um companheiro, aliado dos últimos tempos. Aliado político, digo. “É tudo nosso!”, gritam. E tem início uma chuva de roupas. Reconheço um a um os alicerces da campanha. Agora todos mais à vontade, desnudos, crus, desvencilhados de etiqueta, bárbaros, selvagens, desumanos humanos. Corro ao espelho e, por há muito ter aprendido a me ver na terceira pessoa, flagro tudo dobrado, sem saber o que percebia. A roupa sob medida, o broche de outro no lugar do coração ou o laquê me endurecendo o cabelo, os gestos, os sentimentos e a vida? Havia pupilas dilatadas e a cara cheia de pó branco. “Puta vadia! vem cá!” Lavo o rosto. “Ele é meu parceiro.” Tudo desce pelo ralo. “A gente facilita umas pra vocês.” Incontrolável. “Cadê o pó?” Vozes se misturando. Agora já está feito e não se volta atrás. Descendo pelas escadas da mansão, há whisky, vodka importada, cocaína, whisky, conhaque, erva jamaicana. Vodka importada para boa relação com o esterior. Mais um pouco de pé dos vizinhos colombianos & do mercado interno, pra valorizar o produto. E tudo vai se repetindo assim, agressivamente. Subitamente reconheço: há um ponto vermelho que vai se inflando e inflando e se aproxima. Ninguém reparou, mas agora parece um balão a ponto de estourar. Avisto o número 13 pintado na lateral e penso: cuidar da inflação, PIB, alianças etc e tal. Ou não. Nada aqui terá seus moldes arrumados por minhas mãos. Os trabalhadores de poder real estão em volta. Apenas manter a aparência, penso. Um pouco de pé deve ajudar, mas não existe maquiador aqui agora. Apenas tudo exposto. Exposto até por demais. Ministros desaparecendo em viciantes desertos brancos, jovens mulheres abraçadas a peças influentes do partido, depois montando, dançando, se despindo sobre eles. Armaram a festa na mansão. Os rivais políticos não poderiam aparecer. Hoje, nem amanhã e nem depois. O que foi que eu fiz? Tudo ficou assim abatido com toda a confusão do período eleitoral. E eu, que tanto corri, deixei para trás algo de tanta importância neste último passo. Como voltaria a minha vida ao lado do meu companheiro, se é preciso manter tanta aparência perante esse grande balão vermelho? Não se pode voltar atrás, recusar a verba da companhia. Por outro lado, como seguir adiante num caminho tão embolado para não se fazer entendido? Dúvida existencial da primeira presidente do país. Sei que sempre estarei pensando nele. Nas viagens, congressos, entrevistas, discursos, por trás da imagem de pedra feita estátua, lembrarei invariavelmente do meu fiel, primeiro e único grande amor, José Serra.


Parti ao teu encontro

Ana Carolina Martins

A tarde de domingo foi fundamental para minha decisão. Fazia algum tempo que eu amadurecia a idéia de corre atrás do que é meu. Inevitavelmente e intransferivelmente meu.
Aos poucos fui percebendo que a pergunta, antes feita de forma esporádica, hoje era algo latente, virando uma questão central na minha vida. A minha percepção de mundo não era mais a mesma. Faltava traçar um caminho que, toda vez que me olhava no espelho, sentia falta de percorrer. Definitivamente aquela tarde de domingo foi decisiva, quando tudo se esclareceu e o “start” foi dado. Tomei coragem em meio aos programas sofríveis que são transmitidos. Diante de tantas histórias ruins, exploradas por apresentadores sensacionalistas, eu preferi ficar com a minha e fazer dela uma história de amor; bonita, sólida e real. Eu tinha certeza de que seria marcada pelo trajeto e, caso houvesse um final feliz, melhor. Mas a minha paz não dependia do sorriso da chegada, mas do suor do caminho.
A importância de percorrer é grande, faz parte do processo de perdão pelo abandono. A necessidade de traçar uma espécie de “Caminho de Santiago” para digerir a escolha de ser deixada para trás. Dói ser deixado. Não é bom, deixa marcas. E é pela vontade resolver essas marcas que eu preciso partir.
Por muito tempo fingi que o fato de ser preterida não mexia comigo. Mas hoje, depois de tantos anos, tantas pessoas ao meu redor que me amaram, que me amam e são mais presentes e atuantes na minha vida e me ajudaram a compor o que eu sou, me motivando de inúmeras maneiras a ir atrás do meu objetivo e hoje meu objetivo é a minha essência.
O domingo de sol chegou. Sempre soube que esse dia ia chegar, a vontade de buscar parte da minha vida que foi levada quando escolhas foram tomadas. Já não posso esperar sequer outro domingo, seja ele de calor ou de frio, a urgência me consome e me faz querer correr.
Quero ver meus traços em outra pessoa e poder me reconhecer. Saber se o meu sorriso largo vem de alguém, a mania de coçar a cabeça e o medo de altura veio no pacote de DNA. Quero poder me ver em outros.
O cansaço de uma história cheia de buracos faz o sono desaparecer à noite, unhas serem ruídas e chocolates devorados. Chega de uma ansiedade que só tem um jeito de acabar; conhecendo o que os outros chamam de pais biológicos.
Ser adotada nunca foi um problema para mim. Sempre me senti parte de uma família, um núcleo que me deu uma base sólida. Talvez seja essa força que me move e faz com que eu corra atrás de tudo que se apresenta de forma obscura e mal revelada.
Encontrar os pais biológicos faz parte da minha inquietude, muito justa por sinal. Mas a procura por eles é o que vai me fazer redescobrir a mim mesma, mostrando quais são os lugares dos novos pensamentos, os motivos dos desconfortos e fazer do processo de crescimento um processo em movimento.
A cada novo pensamento, uma ressignificação para as coisas. Ainda falta aprender lidar com o novo eu que surgiu a partir de uma decisão. Uma nova mente no mesmo corpo precisa de adaptações e tempo para se encaixar, formando uma alma plena da qual eu me sinto sem nesse momento.
Assim que o sol baixar e todos da família que eu aprendi a amar, e que me deram muitos motivos para isso, chegarem até a minha casa, um lar que me satisfez por tanto tempo, tomarei a importante decisão de comunicar que aquilo tudo não me basta e que eu preciso buscar as lacunas que sinto.
Pegarei as cartas que nunca quis ler, enviadas anos atrás pela minha mãe biológica para a minha mãe de Verdade, e partirei ao meu encontro.


02/10/2010

No Rio Itchen tudo voltará ao normal

Júlia Robadey

Desci do trem e as únicas pistas para tentar achar K. eram o telegrama que me enviara e o seu perfume. Estava tensa por não conhecer bem o lugar e ansiosa para que estivesse tudo certo com ele.
Era uma bela cidade com edifícios vitorianos e georgianos, árvores frondosas e ruas estreitas que a faziam permanecer com uma atmosfera medieval. Além disso, o inverno a envolvia numa fina camada de neve. Sempre sonhamos em morar em Winchester. Ele para ficar perto do que mais adorava, a história que existia ali, e eu pela Jane Austen.
Não entendia por que K. fora embora. Ele prometeu que nunca me deixaria sozinha. E lá estava eu, à procura do homem mais sonhador do mundo. Hipérbole à parte, tinha medo do que pudesse ter acontecido.
No telegrama ele falava sobre liberdade, que sentia minha falta e que, para tudo ficar como antes, ele precisava pôr um ponto final em algo. “No Rio Itchen tudo voltará ao seu normal”, ele disse. Não entendi muito bem. O telegrama todo não fazia sentido na verdade, mas já sabia onde procurar. Rio Itchen... Só havia um problema. O rio cortava toda a cidade. Por que ele facilitaria as coisas, não é?
Peguei um táxi e expliquei a situação para o motorista. Ele foi muito compreensivo, mas perguntou por que eu não alugava um carro. Eu já não sabia dirigir normalmente, imagina tentar fazer isso do lado errado! Simplesmente sorri e balancei a cabeça negativamente. Acho que ele entendeu o que eu quis dizer e permaneceu em silêncio durante toda a procura.
A noite começava a surgir. Enquanto a neve caia delicadamente, percebi que era a primeira vez que a via. Estava hipnotizada. Até que eu o vi. Com um belo sobretudo preto e uma touca colorida. Só ele para usar aquela touca tão ridícula. Estava segurando um vaso. Tudo fez sentido.
Desde que Ana falecera, ele perdera o chão. Exatamente naquela noite fazia um ano. Ela sempre ria quando falávamos que nos mudaríamos para Winchester. Dizia que não saberia lidar com o frio e que tinha medo de não se adaptar. Ele ria e falava que cuidaria dela, como sempre.
Meus pais se conheceram no colégio e estavam juntos desde aquela época. Minha mãe faleceu num acidente de carro. Meu pai se culpava, dizia que se ele tivesse ido buscá-la como sempre fazia, ela ainda estaria conosco. Eu sabia que não era culpa dele. Mas falar isso para ele era como falar para uma porta que a culpa não era dela de prender o nosso dedo. Enfim, ele não aceitava.
Saí do táxi e fui ao seu encontro. Ele segurava a urna com todas as suas forças. Mantive-me ao seu lado. Ele sorriu enquanto olhava para o lago. Disse que estava feliz por tê-lo encontrado. Encostei a minha cabeça em seu ombro e perguntei:
- Você acha que ela vai agüentar o frio?
- Claro! Ela ficava linda quando era inverno. Ela vai ficar linda aqui. – ele disse.
Jogamos suas cinzas no rio. Não sabíamos se aquilo era permitido, mas não ligávamos. Era um lugar bonito para aquilo e num momento mágico. Fomos para o hotel onde meu pai estava hospedado. Conversamos sobre os últimos acontecimentos. Concordamos que a cidade era exatamente como havíamos sonhado. Talvez nos mudaríamos para lá, realizaríamos os nossos sonhos. E ficaríamos todos juntos como sempre.


29/09/2010

Relações internacionais

Mohara Valle

Desci do trem e as únicas pistas que eu tinha para encontrar K. eram o telegrama que me enviara e o seu perfume. Dois sentidos trabalhando a serviço da minha razão me diziam que K. era do sexo feminino.
K. quis deixar claro que era mulher e não tinha muitos motivos para tentar me enganar. Digo, se entrou em contato comigo, só poderia querer que eu a encontrasse.
Sendo mulher, comecei a chamar K. de “ela”. O perfume doce que eu tinha na lembrança e o telegrama que dizia:
- Liverpool é linda e aconchegante. Tenho algo que você precisa. Traga-me flores.
Agora, um terceiro sentido me movia, na verdade o sexto – intuição. Por quê?
Porque K. não era só uma letra. K. era uma morena de cabelos longos e com pernas de tirar o fôlego. Tá, tudo bem, isso aí a gente encontra em qualquer agência que se preze, se é que me entende.
E foi assim que eu a conheci, procurando aliviar uma tensão. Só que do alívio fomos para a conversa. Eu acabei conhecendo a Keila que amava Beatles, era de Pirapetinga, veio para Campinas estudar Relações Internacionais e precisava pagar os livros de algum jeito, além de curtir ir ao cinema aos fins de semana. Marcamos de ver “Terra em Transe”, mas ela não apareceu. Nunca mais.
Quando seu telegrama chegou, eu estava assim: barba embaraçada com os cabelos do peito, rodeado de poeira, cacarecos e garrafas no chão. Tinha uma faca rente ao pulso e a idéia do alívio que viria a seguir. O resto eu havia perdido.
Então a campainha toca com o telegrama. Keila novamente desviou a minha intenção de alívio, desta vez em um sentido mais eterno.
Uma semana depois, lá estava eu na estação com duas pistas e uma dúvida que evitava trazer à tona, sem sucesso. Sua inicial era mesmo K? Poderia escrever-se Queila, ao contrário. E a droga do telegrama podia ser para o antigo morador do apartamento. Por que eu não pensei nisso tudo antes? Que diabo de idéia de ir para outro continente atrás de uma mulher que eu só tinha visto uma vez, por causa de um telegrama que nem era pra mim.
Eu caminhei pelas ruas atordoado e resolvi ficar em um albergue. Meu dinheiro dava para isso apenas. Senti que estava perdido, o que pelo menos era uma novidade. Há muito tempo eu não tinha mais nada a perder.
Decidi conhecer a cidade. No entanto, em um dia esse plano deu lugar a outro. Eu me lembrei que em nossa única conversa, Keila (com “K” e ponto final) tinha dito que a primeira coisa que faria em Liverpool seria visitar o local onde os Beatles tocavam no início.
Meus dias seguiram em sucessivas vigílias naquele lugar, sempre atento a alguma mulher que pudesse ter um resquício de Keila, embaixo de 16 anos de possíveis rugas e gorduras. Não me importava contanto que fosse ela.
No fim do sexto dia de vigília, uma menina, que então eu lembrei que já havia passado ali, parou e disse:
- Teria sido realmente mais fácil se você estivesse com flores, pai.
Ao que eu, paralisado, não respondi, ela seguiu falando:
- A minha sorte é que minha mãe roubou sua foto da carteira naquela vez e você, no fundo, não mudou quase nada. Vamos sentar em algum lugar?
Eu só fiz escutar e atender. Ela falava, com os mesmos trejeitos da mãe, um português britânico. No café, Karla foi me explicando que me achou porque uma amiga de Queila (sim, com “Q”) era minha vizinha, me viu saindo uma vez e me ouviu cantando “Hard day’s night” bêbado umas cinqüenta. Disse também que optou pelo telegrama misterioso para que eu viesse. Sabendo da minha situação, confiava mais na busca por um motivo para viver do que a idéia de um encontro com uma filha desconhecida. Ela queria me ver, mesmo que depois eu a rejeitasse. Confidenciou que o bolo de Queila foi para preservar o trabalho. Ela não podia se apaixonar. Quando soube da gravidez, resolveu mudar de vida. Trabalhou como recepcionista de uma multinacional em Liverpool até morrer ano passado – “Só porque ganhava em Libras.” – Queila ensinou à filha.
Ouvi tudo com atenção. Ao fim, só pude responder:
- Desculpe, mas tenho que falar que você estava errada. Você tem tudo que eu preciso.
Seu sorriso, tal qual o meu, me dava essa certeza.


28/09/2010

Por acreditar que outros dias virão

Érika Xavier

O despertador tocou às oito da manhã. Não pensei duas vezes: apertei, quase involuntariamente, o botão vermelho. Naquele dia, eu me permiti dormir até acordar, achei que era merecido. Além de um período intenso de campanha nas costas, sentia também a conseqüência das cervejas madrugadeiras que dividi com os companheiros. A motivação dos brindes estava longe de ser o momento inédito pelo qual o país passava. A vitória da estrela rúbia, que carrega nas pontas vários outros ícones, me dava uma agústia tremenda. Aqueles em quem um dia depositei esperanças e até sonhos, diria, hoje vejo do outro lado de uma ponte engarrafada. Decepção. Mas os vejo. Os reparo. Sei onde estão e o que querem. Mais do que isso: sei o que quero.
Quatro de outubro de 2010: dia de ressaca, reflexão e alguma satisfação. O partido dos punhos firmes e das bandeiras que gritam e incomodam mostrou que, por trás da baixa porcentagem, existem homens de consciência e luta, além de uma juventude linda e plural. Vi, durante todo esse tempo, meninos e meninas com brilho nos olhos e sangue nas veias. A cada encontro, uma nostalgia pelos tempos idos e uma enorme gratidão pela mensagem que estava sendo abraçada- esse é o mais belo legado de um homem, acredito. Sabe, ando na rua como qualquer cidadão, e os respeito, ainda que vizinhos me olhem como quem observa alguém prestes a cometer algo fora da lei: fagulhas de tamanha hipocrisia num país onde tudo é da lei. Quando os ponteiros chegaram ao meio-dia, então, abri mão do conforto da cama. Sentia meu corpo moldado no colchão e isso já estava me incomodando. Desci, acendi um cigarro, pisei em incontáveis panfletos que ainda marcavam as ruas da cidade. Terrível. Deputados que talvez outras pessoas achem graça, mas que a mim embrulham o estômago. Comprei uma Coca (apesar dos pesares, cai muito bem num dia pós-bebedeira) e paguei ao seu Zé, meu xará, que sorriu de um jeito carente e me cobrou a biriba que prometo há anos. Antes de ir embora, perguntei: “E então, Zé, satisfeito com o resultado?”. Tive como resposta: “Pra mim tá bom. Esse país precisava mesmo de uma mulher pra ver se toma jeito. Só podia ser mais agraciada., riu. Aquilo me soou como um reflexo da “mãe do Brasil”, imagem que Dilma arquitetou cautelosamente na mídia. A mesma mídia que me citava, apenas, e com estranheza. Concessão pública que dita modelos, cria e abafa candidatos, assim, às luzes. Vejo que as pessoas já naturalizaram essa construção e, às vezes, me pego pensando que, mais do que comida, o Brasil precisa de senso crítico; precisa enxergar e canalizar as coisas no mundo. A inércia, para mim, é nada; e o povo, adormentado e adormecido, marionetes que podem, sim, arrancar as linhas que as guiam e que estão presas e conduzidas por mãos com nome e sobrenome. Sei quem são. Continuo a luta e não estou só.


Petit, Grand Marcel

Maira Renou

Senti um arrepio pelo corpo ao chegar naquele terraço que há anos conhecia, mas que habitualmente me era motivo de alegria brincar com meus amigos... Mas agora tenho medo. Não é certo eu estar aqui. As coisas, definitivamente, estão erradas.
Para começo de historia já nem me lembro a primeira vez que entrei nesta igreja. Eu era tão pequeno. Mamãe me trazia com meus dois irmãos mais velhos, Jacques e Paul. Jacques era uma peste e ainda apronta as suas. Paul, o garoto exemplar. Eu corria atrás do primeiro, entre os bancos da velha igreja. Ela ficava no final da Rue de L`harpe.
Nossa mãe rezava, e nós também. Pedíamos para que o papai fosse libertado. Queria tanto conhecê-lo e não compreendia por que teve que partir, deixar a família, eu na barriga de mamãe! Ela nos dizia que ele foi para ajudar o país, cumprir seu dever de cidadão francês. E eu só pensava que os alemães eram todos realmente cruéis. Não era justo aprisionar meu pai por cinco anos...
Morávamos numa pequena casa, na mesma rua da igreja. Era fria, e, às vezes não tínhamos madeira para a lareira. O mais triste disso é que eu achava que mamãe não gostava de nós... vivia chorando, esquecia vez ou outra da comida. Como as crianças são egoístas.
Íamos à missa todo domingo, ela realmente acreditava em Deus. Eu, particularmente, nem tanto. As coisas não faziam muito sentido. Por que permitir tanto sofrimento e maldade? Ela deve ter percebido minha incredulidade. O esforço que fazia para que eu temesse a Deus era claro. Talvez por isso, a escola católica. Mas também não havia muitas opções. Até a nossa pequena cidade, Angers, sofreu bastante com os bombardeios. As escolas que restavam pertenciam à igreja, e a minha, dirigida por frades. Alguns eram bons. Outros nem tanto, e agora estou aqui.
(Barulho de passos. Uma mão sobre o ombro. Estremecimento).
- Que bom que você veio, petit Marcel.
(Silêncio. Vira-se. Encara)
- Frei Pierre disse que o senhor queria falar comigo.
(Aproximação. Toque na mão)
- Sim, estou preocupado. Me parece que suas notas não estão muito boas.
(Desliza. Paralisação)
(No silêncio vazio, ecoou um grito. O padre caía com o nariz ensangüentado)
- Isso vai te custar caro!
(Correu sem olhar para trás)
Eu já sabia da fama desse pervertido! E ainda se diz representante de Deus! Um soco... muito pouco! E não vai adiantar denunciar, sei que não vai. Com certeza vou ser expulso do colégio. E se quiserem me ex-comungar?! Minha mãe, coitada, vai ficar arrasada. 14 anos... e agora?
(Uma placa diz: precisa-se de empregado)
(Bate no grande portão de madeira. Abrem.)
- O trabalho é fácil, vai colar o adesivo nas latas de tinta e contar. Ganha pouco.
- Eu aceito.

Todos os dias a mesma coisa: a massa de homens tristes, muitos retornados da guerra, olhos vazios, espírito sem vida e corpos cansados. Encaminham-se para as fábricas, trabalham procurando algo mais do que trocados para a baguete. Alguma razão.
Aqui na fábrica de tintas são muitos. Sinto que precisam além de direitos de trabalho, condições dignas de vida. Precisam de apoio, alento e luta! Acho que vou me juntar à Juventude Operária Católica. Alguma coisa posso, e preciso fazer para ajudar nas batalhas que são muitas contra a miséria do povo e do coração das pessoas.

(Mobilização. Esperança)
Preciso continuar.

Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, Amém.
- Mon petit Marcel, tenho certeza que você será um padre bom e justo para ajudar essas pessoas.
- Merci, maman.


Na escada rolante

Yi Jing Tsai

Cinco dias, quem diria? Cinco dias que o seu olhar cruzou o meu. O que mais me surpreendeu foi o fato de encontrá-lo em meio àquela multidão. Tantas pessoas para pousar minha visão e fitei-a justo em você.
Sempre procurei não me prender ao destino. A idéia de que as vidas já estão com seus finais traçados me assusta. Por esse motivo, eu aprecio o acaso. Este encontro, porém, deixou-me confusa: foi um acaso, mas queria que nossos destinos estivessem entrelaçados.
Idealizei como seria nosso futuro. Era difícil me imaginar envelhecendo com alguém, mas consegui nos visualizar com sessenta e quatro anos: eu lendo jornal e você vendo televisão. Eram pensamentos bons. De fato, seríamos ótimos velhinhos, daqueles que sempre têm históricas extraordinárias para contar.
Agora, estávamos mais perto. Nos aproximamos e pude reparar nos detalhes de sua camiseta e até no formato de sua sobrancelha. Não esbocei nenhuma feição, nem de tristeza e muito menos de contentamento. Você parecia estar em outro planeta, e o único contato com este mundo era o ocular. Seus fones de ouvido me intrigaram. Tentava adivinhar seu gosto musical e o que estava ouvindo, pelas batidas de dedos, que acompanhavam o ritmo da canção.
Ficaríamos lado a lado em questão de segundos. O coração palpitava forte e minha razão não sabia o porquê. Éramos desconhecidos, na iminência de um encontro usual, não tínhamos nenhum vínculo afetivo. Sentia-me com treze anos, de novo.
O momento chegou e nem sequer nos olhamos. Ambos trataram de desviar o campo de visão para o lado oposto, evitando qualquer contato. Não doeu, aliás, foi até um alívio. Afinal, paixão momentânea em escadas rolante não dura nem um verão.
Fui deixada no piso superior, enquanto você, no inferior. Meu olhar voltou a te seguir. Você foi ao encontro dos braços de outra menina. Observei a cena como se fosse uma falsa narradora onisciente, que diz saber tudo sobre os personagens, sem ao menos conhecê-los. Por fim, sorri, pois era tudo que poderia fazer.
Há quase uma semana que você faz parte da minha vida, como o protagonista de um romance em que sou uma mera coadjuvante. Já não vivo mais minha rotina. Meu passatempo, agora, é procurar, incessantemente, inspirações para a cena que sucede aquele abraço.

Parti ao teu encontro

Matheus Marins Alvares

Cinco anos, quem diria? Cinco anos que o seu olhar cruzou com o meu num lugar qualquer. O contato visual durou cerca de cinco minutos. É um minuto para cada ano, cara. Loucura. Tempo demais para se esperar por alguém. Eu fico me dizendo: "É loucura, é loucura." E acaba que me conformo no sonho que finda cada dia "Um dia, um dia". E vou levando essa esperança que se renova e se alimenta de luz fria. Periodicamente nos afastamos, é claro. Mas suas mensagens voltam a chegar. Volto a corresponder, voltamos a não oferecer resistência e meu castelo volta a afundar na areia doce das promessas de conto de fadas.
Por tudo isso, tomei a atitude. Deixei os projetos de lado e parti ao teu encontro. Parti arriscando partir o peito já rasgado de tanto desencontro. Você duvidou, hesitou até o dia do meu embarque. Todos os planos estremeceram, ficou insegura, talvez mais que eu. Ensaiava uma desculpa. Verdade, não nos falávamos fazia tempo. Aquele intervalos periódicos pro coração acalmar. Mas não precisava tanto assombro. Arrumei a mala apenas com roupas, um bloco de papel e uma caneta.
Fiquei no mesmo hotel de antes, que visivelmente não fora reformado dentro dos últimos cinco anos, e fui encontrá-la. De primeira mão, não sei o que passou. Acho que, quando parti, deixei no Rio a parte falante e veio só o garoto tímido, ainda que caloroso, gesticulante. A parte interessante mesmo, acho que não trouxe. A não ser que você julgasse interessante tanto rubor... implacável, covarde rubor me colorindo a cara. Você estava embaraçada, também sem jeito e com uma expressão indecifrável. À nossa maneira, houve diálogo. E foi bem como no meu pesadelo. Como poderia você ter começado um noivado? Até entendo de não querer mais balanço, mas tínhamos tudo tão certo, tão ensaiado, tão aplaudido nos devaneios... pode ver, minhas lágrimas são cúmplice. Oh não! Elas também esqueci no Rio de Janeiro.
Partido, agora volto só com meu pesadelo pairando sobre as costas. Cinco anos e eu escolho o pior dia. Nem a deixei avisar, mas poderia me ter impedido, você sempre dava um jeito. Você sempre me surpreende.
Sei que pedirá perdão pelas coisas que acabou fazendo hoje e que eu, sôfrego, continuarei gostando de você. Da próxima vez te trago um cigarro, que num dos tragos você cospe esse babaca. E também um pouco de lágrima para degelar isso que se fez entre nós. A você, só tenho a oferecer o meu pior: esse músculo todo lascado e que não quebra. Vaso ruim não quebra mesmo, mas ninguém quer botar flor. Mas por esses vasos de sangue, fica exposto à flor da pele o martírio do músculo todo lascado se contorcendo no gelo.
O frio pode até conservá-lo das medidas do tempo, mas o mantém incurável refém daquilo que não se mede.


28/06/2010

Uma voz chamando meu nome

Júlia Câmara

"(...) Me ofereceu alguns biscoitos e em seguida perguntou o que me trazia ali mais cedo do que o normal. As borboletas no meu estômago começaram a rodopiar novamente, só ao mencionar aqueles momentos. (...)"

27/06/2010

Distâncias

Matheus Marins Alvares

"(...) A distância entre os pensamentos diminuía. Entre os corpos, aumentava constante. A distância que separava o pensamento dos dois foi extinguindo, extinguindo, até que cessou de haver. A dos corpos foi aumentando, aumentando, até o infinito de nunca mais. (...)" Leia aqui

Bem que eu gostaria de...

Júlia Robadey

"(...) esquecer essa madrugada. As lembranças do que havia acontecido permaneciam impregnadas na minha mente. Eram flashes atordoantes. E eu ainda não tinha plena certeza do que acabara de ocorrer. Ou, o que era mais provável, eu não queria acreditar. (...)" Leia aqui

Falo de um lugar que não cabe aqui

Letícia Rossignoli

"(...) Mas recusamos, às avessas, o convite da transcendência. O sentimento que nos toca não tem origem no deleite, mas não convêm dizer que é amargo. Por que não deixamos que esse momento se estenda? Comungar com algo que não requer de nós nenhuma linguagem oral ou corporal, é gratuito. (...)" Leia aqui

Minhas viagens

Amanda Cinelli

"(...) Naquela semana, ganhei a primeira mala que me acompanha até hoje. Sair do eixo nunca me pareceu incorreto, se eu estivesse com ela. Quadrada, larga, marrom e de couro, ela nunca perdeu o cheiro de álcool da primeira vez. (...)" Leia aqui

23/06/2010

Bem que eu gostaria de...

Viviane Roux

"(...) de ser menos humana e mais ciência exata. Leve, solta, rir de desgraça, rir de filme bobo, cult-pseudo-intelectual, rir de nada. Gostaria de morar perto do mar, ter uma criança pra olhar, um amor, melhor quatro amores, um para cada estação do ano. (...)" Leia aqui

22/06/2010

Cabelos vermelhos

Letícia Rossignoli e Natalia Dias

"(...) Ela saía do bar, andava até o ponto de táxi, entrava dentro de um carro e ia até outro bar, em outro bairro da cidade. Se sentava, pedia um drink e o jogo recomeçava. Os cabelos ruivos até os ombros, a coluna ereta não deixando-se reencostar, a cabeça em riste e o olhar firme, forte, convidativo, eram os mesmos. (...) Leia aqui

Três músicas

Leonardo Bortolin Bruno

"(...) Tudo foi transformado em vida, tempo e minuto. E a cada sonho, novas músicas. O azul do céu, o verde do campo e a presença de Deus faziam parte das três valsas. As valsas da alma.” Leia aqui

Aproximações

Amanda Cinelli

" (...) No alto do 12º andar parecia ainda mais fácil. Mais próximo das nuvens, mais distante do concreto, mais próximo do vento, mais distante de você. Tinham 4 grandes nuvens na minha cabeça naquele dia. (...)" Leia aqui

Três músicas

Matheus Marins Alvares

"(...) Euforia, calor e conforto o fazem mesmo se sentir Just Like Heaven. O mundo pende por um fio no qual ele dança, sapateia, salta e urra aquilo que lhe apraz aos três ventos que saem do ventilador. O que vem depois não importa, pensa. O que vem depois é a poesia nos versos de Arnaldo Antunes. (...) Leia aqui

Três músicas

Júlia Robadey

"(...) Era uma música tranqüila que dava uma certa nostalgia. Em ambos. A voz delicada da cantora ecoava na sala de uma maneira que envolvia aos dois. Eles se olham. Aquela música era sinestésica, tinha cheiro de terra molhada.(...)" Leia aqui

21/06/2010

Começar de novo

Viviane Roux

" (...) Ao sair todos os dias no sol, chuva, ao me submeter a esse processo que chamam tempo, reparei que a máscara foi caindo. A ruga da boca se desfez, revelando um sorriso inteiro, havia tanto tempo que só o dava com um lado da boca. (...)" Leia aqui

20/06/2010

Despedida

José Leonardo Tadaiesky Batista

"(...) Ele – Mas nós já conseguimos fugir.
Ela – Mas não temos mais nenhum dinheiro. O melhor é eu sumir... e você voltar a morar com ele.
Ele - O quê? (Pedro se levanta) Você vai me mandar de volta para ele?
Ela – Você só tem dezesseis anos, Pedro, não pode ficar aqui sozinho. (...)" Leia aqui

15/06/2010

O tempo que jamais vou esquecer

Isis Mesquita

"(...) Eu gostaria que o tempo tivesse pausado ali, ou que eu tivesse aproveitado mais aqueles momentos, eu me culpo, confesso que sim. Deveria ter ficado mais tempo com todos eles. Mas não havia como imaginar o que estava me esperando na primavera seguinte. (...)" Leia aqui

13/06/2010

Onde estavam minhas estrelas?

Amanda Cinelli e Lana Mayer

"(...) Infelizmente não era filme, era minha vida e os dias não passariam em takes de um segundo como normalmente. Tentava me acostumar com a idéia de viver quinze vezes vinte e quatro horas. Eram trezentas e sessenta horas para tentar respirar do mesmo jeito que respirava antes, e então começar uma vida que não me pertencia. (...)" Leia aqui

12/06/2010

Hadija, em Istambul

Viviane Roux e Leonardo Bortolin Bruno

" (...) Voltei para o calor de Istambul. O canto do pássaro foi se tornando imperceptível, misturado aos sons da cidade. De repente, o perco de vista. Olho para todos os lados até que ouço um som familiar. Corro, corro demais, corro. Primeiro, vi as mãos, acariciando as cordas. Depois, o cabelo escuro e, por último, os olhos marejados. (...)" Leia aqui

11/06/2010

Diante de mim, a procuradora

Fernanda Pôrto

"(...) Coagida e alerta. A mulher da ação cumprimentou-me polidamente. A procuradora olhou-me inquieta. Gaguejou. Argumentou que há muita mentira envolvida, que alguns a invejavam e estavam tentando prejudicá-la ferozmente. Engraçado. O comentário não mencionou a criança. Não ouvi nada no sentido de: “Eu jamais faria isso, é a minha filha!”. A ausência da preocupação de quem conhece o amor e a capacidade de amar soou como um veredicto. (...)" Leia aqui

Encontro marcado

Isis Mesquita

"(...) Neste mundo desconhecido, fiquei tensa de novo, desesperada era a melhor palavra. Dei um sorriso involuntário de tensão, no qual só a sua boca sorri, um daqueles bem amarelados, enquanto o seu olhar fica perdido e louco, assim como imagino que eu estava. (...) " Leia aqui

Sou um cordeiro

Leonardo Bortolin Bruno

"(...) Certa hora do dia, alguém com mais poder que nós leva-nos para um passeio no campo. É nesse momento que nos sentimos melhores, pois conseguimos andar mais e com espaço para nos deliciar na grama. Mas é nessa hora também que vemos como somos cordeiros no meio de um rebanho. Bate a sensação de estarmos sendo vigiados e a sensação de ilusão daquele passeio. (...)" Leia aqui
 
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